11.1.12


FERNANDO ECHEVARRÍA



VIVOS ESTÃO. E É DO FUNDO DE ESTAREM
que seu pulso nos vem vivente
estremunhar. Que naufragáramos quase
na compenetração. Estado sempre
imbuído de ausência. A saturar-se
do rasto duma ida tão doente
que o mundo cessa à volta. Ou é arrabalde
que de o ser até se esquece.
Mas, quando de onde estão nos vêm e trazem
pungência tão de pulso renitente
despertar se subleva. Sobe ao auge
de vê-los vir àquela terra estreme
onde a morte perdeu a sua base,
que só há vivos nessa luz vivente.


2

OS VIVOS QUE ALI VIVEM NOS CONVOCAM.
Em nós sublevam esse pulso vivo
que fica dando, com a evidência toda,
para o rasto sugado do seu ímpeto.
A haver fronteira, passa por uma zona
aonde as dimensões cruzam conflitos
e paralisam. Embora
perplexa errância acerte o exercício
e fixe o ponto de onde se abre a folga
que ajuste a dimensão ao novo sítio.
E esse sítio é o de aqui e agora.
Com o agora a exceder-se e vivo
a contundir à volta
do pulso peremptório. E fugidio.


3

MAS QUE SÓ FOGE QUANDO SE OBNUBILA
a atenta gravidade. Rompe então
uma estranheza de alba compassiva
que fica a pairar. E só
a lomba reconhece, tão antiga
que se lhe esvai a luz do pormenor.
Ou, talvez, essa luz entre em vigília,
sendo a vigília ritmo que se foi
esquecendo do ponto agudo em vista.
Agora, é sem ninguém a solidão.
Mesmo a paisagem desfalece. Fica
o eco trespassado de um fulgor
e decaindo para a cota implícita
que a explícita estranheza veio impor.


(de In Terra Viventum, edições Afrontamento, 2011)

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